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quarta-feira, 3 de março de 2010

Sobre a loucura

Erlenia Sobral

Na minha turma de pós brincamos constantemente com a categoria da loucura, dizendo que esta certamente foi, sem duvida, critério de seleção da nossa turma. Ou será mesmo coincidência a reunião de 11 seres mui loucos numa mesma leva de seleção? Fica a duvida.Mas, neste texto gostaria de comentar um pouco sobre a loucura. Claro sem nenhuma pretensão de lucidez acadêmica,ate porque não tenho propriedade para tal.Mas calma, não deixem de ler, pois também não tenho ainda atestado de doido.Sou alguém quase normal, pensando e temendo um pouco a temática.

Claro que temo. Quem ai não tem aquele medinho de enlouquecer de vez? Se nunca passou isso pela sua cabeça, cuidado,... das duas uma:ou vc já enlouqueceu totalmente e portanto a temática pouco o preocupa ou ninguém lhe avisou,mas sua normalidade ta passando dos limites.

Aquela velha frase de Caetano de perto ninguém é normal todo mundo já usou um dia, principalmente em ocasiões em que vc se surpreende com uma atitude de um velho amigo que era pra vc símbolo de lucidez, até presenciar um ataque histérico dele no transito. Ou ele vai dormir na sua casa e confessa ter medo de espíritos, pedindo pra que vc deixe a luz acesa(ele conhece tanto os espíritos que sabe das loucuras dos mesmos).Ou vai tomar café com vc, lava as mãos umas quatro vezes e em seguida tira todo o miolo do pão pra não engordar.Não sem antes tomar 2 copos de suco de laranja e 2 fatias de bolo.

São nestas pequenas loucuras que revelamos nosso ser. Talvez por isso, companheiros (as) de longas datas se tornem cúmplices e por vezes tem dificuldades de se separar, mesmo quando o amor já foi. E se ele revelar minhas manias? E depois dá uma preguiça de conhecer outro maluco ou maluco e passar pelos velhos processos e só revelar suas loucuras aos poucos pra não assustar o futuro cuidador ou cuidadora. E se as loucuras de um outro louco emergente forem piores que as do anterior?Afinal, vc tem que saber qual loucura combina mais com a sua.

Conheço gente que, coitado, tem certeza absoluta que é normal. Mas,também é só a certeza,porque os olhos,os risos nervosos e os tiques o desmentem o tempo todo.Conheço um que a psicóloga deu alta em poucas sessões e teve pena de encaminha-la ao psiquiatra.Pena do psiquiatra,não dele.Afinal o pior doido é o sabido e aquele que filosofa sobre sua própria loucura e ainda consegue seguidores.

Às vezes é genético. Conheço uma família inteira.Meu pai dizia que na dita família, o mais normal era sua afilhada e mesmo assim pedia a bênção a ele as 20 vezes que o encontrasse.Pior era meu primo,que ao chegar na casa da vó, não tinha paciência de esperar todo aquele ritual que a velhinha fazia e antes que ela começasse,ele já a tinha abençoado e corrido pro quintal brincar.

Tem também a lenda que estudar deixa a gente doido. Não duvido,embora me arrisque.Encontro muitos loucos na universidade.Por isso é bom continuar marxista,pois esta perspectiva ao menos não viaja muito na maionese,mantém seu pé firme no chão e pode ser um antídoto contra crenças,boatos e loucuras.Se bem,que as vezes não funciona muito com certos companheiros.

Afinal, os marxistas também tem uma certa dose de loucura, ao quebrarem as regras da normalidade dos padrões e fetiches burgueses. Mas,neste caso a loucura sim é a maior prova que em certas ocasiões a normalidade e a loucura tem muito mais identidades do que imaginamos.

Sobrevivemos numa sociedade que enlouquece a todos nos, com consumo desesperado de coisas e coisas e coisas. Você pega alguma coisa na prateleira,enfrenta uma fila,xinga a lentidão e resistência do caixa explorado,trabalha de graça como empacotador de mercadoria para o dono da loja economizar mais alguns milhões de reais,leva pra casa,olha mal pro seu vizinho no elevador,se tranca e vai curtir sua nova aquisição.

Ao menos ate o momento que vc descobre que não era bem aquilo que queria... talvez tem um lançamento novo.O que vc não consegue enxergar nem descobrir e a identidade que se construiu entre seus desejos e os do capital.E mais, que o que nos enlouquece é não sabermos mais quem somos,pois ele já se apoderou de nossa alma.

2 comentários:

  1. Eu não sou esquizofrênico, nem eu.
    E o marxismo não é loucura não. É só "caduquice"! Quando o Vovô foi ficando gagá, a gente não dizia nada e deixava ele continuar com seus anacronismos.

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  2. rsrsrs...todo vovô é sempre muito sábio né...as teorias só caducam qdo não tem mais nada a dizer sobre a vida real..não é o caso do velho diabo.

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