Pesquisar este blog

O fantástico mundo doméstico






Tenho me impressionado com a proporção de assuntos da vida privada no programa Fantástico. Parece-me hoje uma tendência da mídia em geral. Os espaços antes reservados pra questões sociais, políticas e econômicas cedem lugar a preocupação com assuntos domésticos.

A conjuntura nacional e internacional vem em flashes e o que é mais importante, plausível e mutável ocupa a maior parte do programa. Talvez, porque do ponto de vista da adrenalina e o efeito em nossos nervos, um golpe em Honduras faça menos sucesso que assistir a um pestinha poderoso e sua mãe enlouquecida pra lhe dar um banho.

A TV é um instrumento poderoso pra publicizar e popularizar qualquer debate e é preocupante quando torna a problematização da vida privada seu foco central. Não que não seja importante ajudar a Joana (moça bem sucedida, mas uma coitada participante do movimento dos sem amor) a encontrar seu príncipe. O estranho é que isso seja o palco central de um programa jornalístico.

Não que também nos façam falta as análises de conjuntura da rede globo, entretanto o espaço da informação é ainda um lugar de esfera pública, das grandes questões, dos dilemas sociais que atingem a maioria da população. Mas, pra isso claro, tem a hora do esporte, uma cadeira cativa e de grande audiência.

Se vc tem problemas de relacionamento em casa ou é parte do grupo dos sem divã, publicize seu dilema no Fantástico que a liga das mulheres resolve. Pessoas sem nenhuma especialização, mas que tem a grande vantagem de não estarem envolvidas em seu drama, e só por isso vão encontrar imediatamente a solução. De quebra, vc ainda terá seus 5 minutos de fama pq os outros 10 ficam para o patrocinador.

Como telespectadora gosto mais da Super Nanny e seu cantinho da disciplina, pena que a pedagoga não visita pobre, se não os três seres masculinos (estranhos a organização doméstica) que habitam esta casa já estariam enquadrados e eu já estava famosa...