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Vendedores...


Meu irmão cedo se aventurou pela vida em fuga das parcas condições em que vivíamos no Ceará. Aventurou-se na região norte e logo descobriu seu talento pra vendas. Talento, proveito dos talentos da   famíla e esforço que o fizeram acumular algum recurso e aglutinar um seleto grupo de vendedores no Pará.Mas,sem as malícias da administração empresarial e com a pouca paciência que lhe é peculiar,ele nem sempre repassava seu modus operandi aos funcionários ou colaboradores.

Até o mais tímido de nossos primos se aventurou no negócio. Entretanto seu trajeto era sempre nos caminhos fora das casas. Arlindo passava o dia rodando, sem se dirigir a um domicílio sequer, mas cumpria rigorosamente o horário. Funcionário padrão,só voltava pra casa depois do expediente.

Outra estrela do time era Daniel, um cara disposto ao trabalho, mas que trazia na principal ferramenta do vendedor – a linguagem- expressões de excessivo detalhamento. Destes de fazer o interlocutor perder a paciência. Em um minuto de conversa com Daniel vc ouviria: hoje pela manhã, umas 6:45min, eu acordei,abri os olhos, sentei na cama,levantei,tirei meu pijama listrado e vesti minha calça nova, chamei a Carmem e disse “amooorrr”... Coitada da Carmem e das donas de casa que recebiam a visita daquele vendedor... Daniel só não conseguiu falar em excesso no dia que já pronto pra ir pra casa,foi abordado de longe por uma moradora do morro.Este como funcionário exemplar e seco por uma comissão subiu todo aquele trajeto com as caixas de panela pra ouvir desalentado e já sem fala, a senhora perguntar por um fôrma de pudim,a única ausente naquela coleção.

Mas, a ausência de treinamento afetou particularmente cunhado de meu irmão, que em busca de uma ocupação, resolveu se aventurar na arte das vendas com muito esforço, empenho embora com pouquíssima habilidade na venda daquela famosa panela elétrica.

Em sua primeira abordagem Fernando já enfrentou feliz seu primeiro desafio no processo de demonstração da praticidade da panela com tampa elétrica. Entretanto, O resultado só saiu depois de algumas horas. Diante da ineficiência comprovada do utensílio , Fernando de pronto concordou com a entendiada dona da casa: ”esta porcaria não presta mesmo não.. o Sobral me paga...”

Já no escritório Fernando relatou o acontecido e já ía desistir da sua brilhante carreira quando meu irmão identificou em seu desabafo que o alimento usado pra demonstração era um pedaço de frango congelado. Fernando ficou aliviado porque na próxima demonstração usaria um alimento mais prático e então não teria que contar toda a história do Brasil para a próxima dona de casa.

E em segundo dia, Fernando foi pra suas visitas em domicílio, tentar encontrar outra vítima pra observar seu talento em operação com a tampa elétrica.Depois de algumas tentativas,Fernando chegou numa casa que de longe dava pra ouvir os gritos de uma briga entre marido e mulher.O valente vendedor encarou assim mesmo e tocou a companhia.Da porta e ainda aos gritos,saltou o dono da casa: o que é que vc quer? Fernando não titubeou: “é só com sua mulher”...Nem preciso dizer que Fernando saiu de lá praticamente expulso e como o elemento agravante da discussão do casal,sem nunca com eles ter cruzado uma esquina.Ainda bem que não foi Daniel na ousadia de abordar aquela casa. Se fosse teríamos uma triste estória pra contar da morte de um vendedor ou estaríamos até hoje de ouvidos feridos das ricas e densas descrições do falante vendedor.

Meu irmão mudou de ramo, mas os vendedores continuam com seus talentos disponíveis para o mercado.