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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Salve-se de paletó

Ontem estive na emergência de um hospital público da fortaleza bela. Enquanto eu e demais familiares pensávamos na transferência de meu pai para o atendimento privado ( fundamentados no salve-se quem puder) pessoas transitavam naquela sala que mais aparentava uma bodega ou feira de clamores. Entre doentes e alguns poucos auxiliares de enfermagem as moscas faziam a festa com algodões e gases apodrecidos e jogados pelo chão que há tempos parecia não ter o privilégio de ser atravessado por uma simples vassoura.
Indignados com o descaso abordamos a Assistente Social acreditando ao menos no direito de sabermos das causas do abandono. A cordial profissional vestindo no fardamento e no espírito a camisa da instituição deu finalmente o veredito: culpa da população que não tem mais respeito pelos profissionais e vivem agredindo os médicos...tão diferente do passado, onde as pessoas pra falarem com um médico vestiam até paletó. Pensei então nos cinco anos que esta criatura passou pela formação em Serviço Social, imaginei que em mil novecentos e bolinha. Minha irmã foi mais longe na imaginação e logo viu aqueles pacientes agonizantes todos de paletó. Estava aí a solução para a vinda dos médicos e talvez a ida para o cemiterio.
A AS tinha esta cuidadosa e prestimosa explicação depois de uma manhã inteira onde nenhum médico sequer olhou de longe aqueles tantos que ali agonizavam. Mas minto, em torno de meio-dia algumas belas figuras jovens, rosadas e de jaleco branco transitavam por ali em uma dessas ocasiões de aprendizagem onde os subalternizados e suas mazelas se tornam excelente matéria-prima para a formação de futuros deuses. Seria bom sempre tirar fotos deste encontro, registrar o que talvez nunca mais aconteça.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dias de stress, tarefas a cumprir, uma pilha de livros pra decifrar, eu afogada sem saber por onde começar,telefone toca: é uma atendente da OI motivada e premida por uma de suas tarefas de trabalhadora polivalente: vender promoções, promoções imperdíveis que de tão incríveis, parece que vc vai ser paga pra aceitar...agridoces ilusões...
A coitada foi vítima da minha indignação com estas abordagens. Respostas secas e desinteressadas, a alegre promotora de vendas partiu para a subjetividade. Não sei ´se por sobrevivencia ela aprendeu ironias ou se a preocupação era verdadeira: VC TÁ BEM? O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
Por alguns segundos e comovida com tamanha intimidade e sensibilidade, juro que fiquei tentatada a aproveitar os seus prestativos ouvidos e pensei em destrinchar os meus dramas pessoais. Mas, como fiquei na dúvida se era gente ou apenas uma gravação...sei lá.. Aquela voz feliz, com perguntas e promoções bem definidas, presentes a me oferecer e com tamanha humanidade provavelmente não era gente.