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sexta-feira, 19 de março de 2010

MESTRE JOÃO SOBRAL

Mestre João Sobral tem 79 anos de suor, trabalho e sonhos. Sua vivacidade se expressa principalmente no fato de nunca deixar de sonhar, planejar e realizar. De tanto ser obrigado a rezar na infância, não gosta de igrejas,padres,mas é um homem de muita fé,embora até desconfie da existência de Deus.Sua fé é na capacidade e força em que busca a realização de suas vontades.
Adora conversar por horas histórias e estórias, meio que também encontrou de suportar a dureza de seu trabalho de mestre de obras, saídas de madrugada de casa e retornos à noitinha. De sol a sol, nunca reclamou de ter que sustentar sozinho seus oito filhos,apesar das dolorosas câimbras que o torturavam a noite.
Saiu do sertão de Quixadá na década de 1970 com o sonho de formar seus filhos para que nenhum deles tivesse que carregar sua mesma cruz pesada. Apesar desta busca por aliviar o caminho dos filhos, nunca foi suave ao ralhar com os mesmos, ao contrário, sempre duro e exigente em seus ensinamentos, compatíveis com um homem rude e de sólida formação moral.
Esta mesma moral que o fez criar inimigos entre seus companheiros de trabalho, mais resistentes a moral burguesa da propriedade privada. Neste mesmo espaço, sempre foi respeitado por muitos colegas e patrões por sua perspicácia, objetividade e honestidade.
Apesar da rigidez, sempre lamentou não poder expressar carinhos em forma de mercadorias, presentes aos seus filhos. Mas, conseguiu a todo custo garantir alimentação e estudos. Nem todos os filhos realizaram seu sonho de formatura, mas todos herdaram dele a capacidade de sobrevivência.
Apesar de uma história difícil e de luta, não esperem encontrar um homem cansado de guerra e triste. Ao contrario, um senhor que reforma constantemente o negocio que conseguiu construir depois dos 60 e sua casa que vive com dona Eliza, uma grande companheira com quem compartilha sonhos, seu humor bipolar e desgastes da idade e de um AVC que sofreu recentemente(que por sorte,não deixou sequelas).
Em maio completará os 80. Permanece a sua vivacidade, sua vontade de crescer e ainda se aventura na sua velha profissão de pedreiro, derrubando e erguendo paredes agora de sua própria casa. É inquieto,tem as mãos bem calejadas,os olhos atentos e algumas vezes o pegamos a filosofar sobre a brevidade da vida,nem que seja sozinho.Hábito que tem desde moço e que nós filhos não compreendíamos bem e morríamos de medo,principalmente quando era acompanhado de murros na parede.
É que a gente ainda não compreendia como um homem tão inteligente e centrado poderia falar sozinho e em voz alta. Hoje sabemos que estas mentes de inteligência rara quase sempre são as mais solitárias e inconformadas com as contradições da vida. E nem sempre conseguem compartilhar suas angústias.

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