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A ESCASSEZ MASCULINA EM TEMPOS NEOLIBERAIS




Erlenia Sobral


Como exigência de obtenção de grau de membro efetivo mui louco do café ccsa, apresento o presente artigo, que tem como objetivo sistematizar um dos principais temas das tardes cafeinadas: a escassez masculina em tempos neoliberais
Para além do campo acadêmico, há um consenso que este é um tema surgido na cotidianidade e que atravessa transversalmente a vida de mulheres de todas as classes sociais, raça, etnia, geração e de outras identidades específicas e genéricas que no momento não lembro.
Vale a pena salientar que a persistência da temática não se coloca metafisicamente na construção de um suposto ideal masculino, como aquele que eu e algumas amigas projetamos na sala de reboco: uma síntese de homem cuja característica fundamental é ser policlassista. Sim,um homem objeto multiuso, três em um-1)com poder econômico da classe dominante exploradora 2)com a coragem e virilidade da classe trabalhadora e 3) a habilidade pra fazer DR(discutir a relação) que tem a classe intelectual parasitária.
Não é deste ideal que o presente artigo trata. Até porque a inspiração etílica que deu origem a reflexão acima referida foi vomitada por quase dois dias e mestre cervejeiro nunca lembra fielmente da profundidade e conseqüências de suas reflexões.Acho que poderíamos criar um novo posto de trabalho nos bares da vida- um(a) trabalhador(a) só pra anotar as pérolas dos mestre cervejeiros.
Mas,como este trabalhador ainda não existe,voltemos a seriedade da temática e sua urgência. Antes que algum(a) machista moderno ou pós-moderno(a) se manifeste,o problema não é nossa culpa e não é mera representação de mulheres supostamente carentes. A ausência de homem é uma condição ôntica,real.

Vamos às estatísticas: Segundo dados do IBGE 2007, das cinco regiões do país, as mulheres são maioria em número de habitantes em três: Nordeste, Sudeste e Sul. Os homens são maioria apenas nas regiões Norte e Centro-Oeste. A fiocruz realizou um estudo que revela alguns determinantes desta situação:

Foram comparadas as taxas de mortalidade masculinas e femininas no Município do Rio de Janeiro (Brasil), em 1960, 1970 e 1980, buscando analisar os diferentes riscos a que homens e mulheres são submetidos, em cada grupo etário. Os diferenciais de mortalidade por sexo e causa foram estudados através da Razão de Sobremortalidade Masculina, das diferenças relativas e absolutas entre taxas e de taxas padronizadas. Além disso, foi desenvolvida uma análise dos diferenciais por grupos selecionados de causas para o ano de 1980. As taxas de mortalidade masculinas foram maiores do que as femininas em todas as faixas etárias, nos três anos estudados, com aumento da Razão de Sobremortalidade Masculina entre 15 e 34 anos, no período considerado. O excesso de mortes masculinas foi causado, sobretudo pela elevação dos óbitos por causas violentas em homens jovens, o que retrata uma realidade dramática, cuja possibilidade de transformação através de medidas "técnicas" é escassa. Em relação aos óbitos por outras causas, os determinantes biológicos e os diferentes riscos a que são submetidos homens e mulheres devem ser considerados, buscando-se melhor compreensão da realidade.

Estas pequenas amostras revelam a coincidência entre a escassez de homens e o período de ascensão do neoliberalismo ao poder. Portanto,nada mais científico que identificar no movimento de ruptura com o keynesianismo como proposta reguladora possível nos anos dourados derrotados ,o surgimento da escassez masculina.

Além deste elemento universal mais geral que retira os homens de circulação, até porque pro direito burguês de ir e vir tem que ter dinheiro, tem algumas outras hipóteses. Um elemento é a própria emancipação feminina que parece distribuiu uma tonelada de óculos para as mulheres que viam príncipes em meros sapos;daí muitos sapos abandonados.As mais práticas deixaram de gostar de homens e sapos.Algumas outras se arrependeram;se soubessem que a escassez estaria por vir, com certeza quebrariam os óculos. .O velho dilema tostines: antes mal-acompanhada do que só ou melhor só do que mal-acompanhada????

Outra hipótese,com um viés relativamente conservador,aponta que a maior liberdade de expressão da preferência sexual retirou uma parte oprimida de homens do armário diretamente para a parada gay.É algo extremamente positivo;maior liberdade e reconhecimento da diversidade da sexualidade humana.

Entretanto, alguns heteros ficam invejosos e histéricos se perguntando por que a parada gay bate o recorde a cada ano? 3,5milhões só em são paulo este ano. Há um deputado,provavelmente movido pelo desejo de provar(inclusive pra ele mesmo) sua masculinidade que quer criar o dia do orgulho hetero. Coitado ,mal sabe ele que ser gay tá na moda e que colocar hetero no seu perfil do orkut é sinal de ser careta;o mais avançado é ser bicurioso(ADNET,15 minutos,mtv).Mas,o que me dá dó mesmo é ver os homossexuais lutando pelo direito ao casamento monogâmico,alguém aí quer avisa-los do significado real desta instituição?Os cientistas afirmam que depois de 7 anos,o casamento deixa de ser direito pra ser obrigação.Talvez eles lutem,porque sabem que tem o divórcio.

Outra hipótese plausível é que o movimento pós-moderno,enquanto versão cultural da dinâmica de sobrevida do capitalismo tardio,tenha colaborado pra ausência de compromisso nas relações homem-mulher;tudo agora é efêmero e descartável e toda sorte de irracionalismos pode ser vivido em nome da suposta liberdade individual.Chegamos ao sonho anarquista do amor livre???Desconfio que não; alcançamos talvez algumas liberdades, mas de que adianta se ainda não sabemos de nós. Continuamos a sufocar o amor e a exigir dele o alivio de toda a nossa tensão,determinada pela perda cotidiana de nós mesmos.
Portanto, levar a sério esta temática da escassez masculina não é temática de gente mui louca, é coisa de quem não tem nada melhor pra fazer, talvez mulheres alienadas. Gente mui louca sabe que a única verdade que se tem pra dizer deste objeto é que ele não pode ocupar nossas preocupações, a não ser como motivador de risos. A única escassez que devemos nos ocupar é a ausência de nossa humanidade que nos torna incapazes de nos reconhecermos senhoras e senhores de nossa própria história.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



• ADNET,Marcelo- Programa 15 minutos-MTV-2008

• Sites IBGE e FIOCRUZ

• Mestras cervejeiras- Cicera gomes, Nathalia sobral , Cleomar e Margarete et all-O homem ideal-sala de reboco-julho 2008