Pesquisar este blog

quarta-feira, 31 de março de 2010

...Pois o trem está chegando....
Uma das obras mais demoradas dos últimos tempos é a do metrofor. Há tempos a população sonha com a possibilidade de um transporte coletivo menos opressor. De tanto sofrer no massacrante sistema de transporte não é de estranhar que vez por outra alguém surte ou tenha delírios.
Foi a explicação mais razoável que minha sobrinha encontrou ao presenciar aquela cena tragicômica que assistiu em um desses dias comuns e hilários que só o terminal da parangaba comporta em sua síntese da tragédia e comédia da vida urbana.
No caso, a cena ocorreu na chegada ao prosaico terminal. Como era de se esperar o motorista do ônibus que Nat. estava, parou ao ouvir o apito do trem. De seu lado parou outro prudente motorista de ônibus que também se encaminhava à chegada do terminal da parangaba.
Mas, na aproximação do trem, um grito desesperado de horror vindo do ônibus paralelo. Em seguida,um coro coletivo de passageiros horrorizados com a loucura daquele motorista que pela cara,não entendia aquela histeria coletiva e em seu calmo rosto eram visíveis vários pontos de interrogação.Pontos de interrogação que também eram flagrantes em Nat e demais passageiros do ônibus vizinho.
Eis que pra amparo dos desesperados surge um herói que num supapo poderoso e provavelmente muito doloroso, quebra o vidro da janela,sem mesmo precisar da alavanca. Quando a principal mobilizadora já estava de pé na cadeira pra pular, o velho trem passa na frente dos ônibus.
É, eu falei na frente e não por cima dos ônibus como alertava a desesperada senhora. Os trilhos sobre os quais os ônibus haviam estacionado eram obviamente os desativados pela grande obra. Por questão de segundos, os heróis que sabiam exatamente onde lançar seus corpos naquele suposto urgente momento, não sabiam mais onde "enfiar a cara".
Imaginem que tudo isso tenha se passado em menos de cinco minutos. A cena caberia tranquilamente em um filme... só seria difícil qualificar se em ação,drama ou comédia...claro que dependendo do ângulo de visão e de informação.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Semianalfabeta digital e praticamente sem habilidade pra manusear este blog,hoje me tornei seguidora do meu próprio blog..rsrs..se alguém aí souber como superar esta prática narcísica e esquizofrênica,me ensina tá..

terça-feira, 23 de março de 2010

Não tem preço....


Que nosso sistema mercantiliza tudo, todos sabemos e usufrímos de tal processo de desumanização. Agora eu não tinha noção do quanto o uso de cartão de crédito ou débito faz parte de um banco de dados que pode em 20 dias decifrar coisas importantes de sua vida para os credores, inclusive se vc está prestes a se divorciar. Não é minha imaginação fértil, li numa revista científica, comprada por um cartão de débito em uma banca de revistas numa esquina qualquer.
Cada vez q. a praticidade da máquina “facilita” sua vida, uma bateria de informações é repassada e armazenada; daí bancos e credenciadoras através de programas de computador estabelecem critérios de julgamento da sua capacidade de compra, o que vc compra, onde compra, se abastece próximo do trabalho, viagens, seu poder aquisitivo, já sabem até q. se vc muda de supermercado pode estar tendo problemas financeiros.
Divórcio para os credores é algo ruim, logicamente não por uma preocupação social, mas é um mau negócio, pois de acordo com as estatísticas, a separação desestrutura a vida financeira das pessoas e deixa o mercado mais sujeito a calotes. Neste sentido, eles podem prever se em 2 anos, com grau de acerto de 98% e de acordo com os padrões de compras se ocorrerá divórcio.Se vc anda pulando a cerca é possível que seu cartão de crédito não tenha aumento de crédito enquanto vc não ficar ciente que sua inconseqüência poderá futuramente prejudicar o mercado financeiro.
Quando leio estas coisas me sinto no filme matrix, só que com um nível de exposição e manipulação superior a capacidade de batalha do belo Keanu Reeves.
Segundo um neuroeconomista,outra "facilidade" que o uso do cartão oferece é que ele distorce a competição entre as partes do nosso cérebro.Assim,a empolgação da compra não é afetada pelo pagamento em dinheiro;nem parece que estamos ou vamos pagar.Basta esconder os tíquetes amarelos ou azuis no fundo da carteira,ainda que a fatura nos lembre daquela lei básica: toda ação gera uma reação em sentido contrário.Quer dizer,alegria na compra,dores com fatura.É isso que o cinismo da publicidade anuncia:não tem preço.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Em véspera de enfrentar a qualificação do meu projeto lá no querido Recife..escrevo mais ainda as minhas banalidades pra acalmar minha ansiedade(sempre latente em minha aparente calma)...E aqui falo de um dos meus amores.

Aprendendo,mas não tem ensaio...

Uma das descobertas mais importantes pra mães de adolescentes é saber que os neurônios se regeneram, coisa que há pouco a ciência não sabia. Isso quer dizer que nem tudo tá perdido e que nossos discursos cotidianos frente aos comportamentos “aborrescentes” podem brotar algum efeito. Haja paciência, mas enfim é a parte do mais padecer e menos paraíso que nos cabe. Com tanta tecnologia a favor, bem que poderíamos já gravar algumas falas básicas, iria nos poupar de questionamentos de nossas sagradas ordens.
Bem, tou iniciando agora neste papel de mãe de adolescente, não tenho muita experiência pra discorrer ou dar dicas, já que meu baby agora que fez 13 anos. Pra conhecer melhor esta pessoa que já não cabe em meus braços e que já prefere a companhia de amigos, tenho visitado o Orkut dele, desde que ele me convenceu a ter um. Surpreendo-me quase sempre com algum EU TE AMO de alguma menina, pergunto se é namoro, meu bebê responde que isso não indica namoro e que eu só penso assim pq sou antiga, mais precisamente do tempo das trevas. Até que tenho muita facilidade de conjugar o verbo amar, mas não sei se me acostumo em acompanhar esta banalidade com o eu te amo.
Vou então às comunidades... Ele já se associou a mais de 600, imagino o tempo de estudos que daria. Nelas percebo várias de nossas influências, parece que neste sentido as gerações passadas (do tempo das trevas) fazem vários empréstimos a dele: Pink floyd, Legião, referências comunistas, etc. Do lado da comunidade EU ODEIO A REDE GLOBO está sem nenhum constrangimento, a do DOURADO do BBB.
Mas, no passeio que fiz me senti contemplada pq encontrei a básica e fundamental comum. EU AMO A MINHA MÃE. Tento acompanhar tudo, sem deixar de ser uma referência de autoridade, quero ser amiga sem deixar de ser mãe. Mas, eita tarefa espinhosa e difícil de saber os limites e fronteiras.
MESTRE JOÃO SOBRAL

Mestre João Sobral tem 79 anos de suor, trabalho e sonhos. Sua vivacidade se expressa principalmente no fato de nunca deixar de sonhar, planejar e realizar. De tanto ser obrigado a rezar na infância, não gosta de igrejas,padres,mas é um homem de muita fé,embora até desconfie da existência de Deus.Sua fé é na capacidade e força em que busca a realização de suas vontades.
Adora conversar por horas histórias e estórias, meio que também encontrou de suportar a dureza de seu trabalho de mestre de obras, saídas de madrugada de casa e retornos à noitinha. De sol a sol, nunca reclamou de ter que sustentar sozinho seus oito filhos,apesar das dolorosas câimbras que o torturavam a noite.
Saiu do sertão de Quixadá na década de 1970 com o sonho de formar seus filhos para que nenhum deles tivesse que carregar sua mesma cruz pesada. Apesar desta busca por aliviar o caminho dos filhos, nunca foi suave ao ralhar com os mesmos, ao contrário, sempre duro e exigente em seus ensinamentos, compatíveis com um homem rude e de sólida formação moral.
Esta mesma moral que o fez criar inimigos entre seus companheiros de trabalho, mais resistentes a moral burguesa da propriedade privada. Neste mesmo espaço, sempre foi respeitado por muitos colegas e patrões por sua perspicácia, objetividade e honestidade.
Apesar da rigidez, sempre lamentou não poder expressar carinhos em forma de mercadorias, presentes aos seus filhos. Mas, conseguiu a todo custo garantir alimentação e estudos. Nem todos os filhos realizaram seu sonho de formatura, mas todos herdaram dele a capacidade de sobrevivência.
Apesar de uma história difícil e de luta, não esperem encontrar um homem cansado de guerra e triste. Ao contrario, um senhor que reforma constantemente o negocio que conseguiu construir depois dos 60 e sua casa que vive com dona Eliza, uma grande companheira com quem compartilha sonhos, seu humor bipolar e desgastes da idade e de um AVC que sofreu recentemente(que por sorte,não deixou sequelas).
Em maio completará os 80. Permanece a sua vivacidade, sua vontade de crescer e ainda se aventura na sua velha profissão de pedreiro, derrubando e erguendo paredes agora de sua própria casa. É inquieto,tem as mãos bem calejadas,os olhos atentos e algumas vezes o pegamos a filosofar sobre a brevidade da vida,nem que seja sozinho.Hábito que tem desde moço e que nós filhos não compreendíamos bem e morríamos de medo,principalmente quando era acompanhado de murros na parede.
É que a gente ainda não compreendia como um homem tão inteligente e centrado poderia falar sozinho e em voz alta. Hoje sabemos que estas mentes de inteligência rara quase sempre são as mais solitárias e inconformadas com as contradições da vida. E nem sempre conseguem compartilhar suas angústias.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Religioso-ser ou não ser

Erlenia Sobral
Em recente culto a São Marx no gema, debatemos com todo fervor a questão da alienação religiosa enquanto um dos elementos contrários a emancipação humana. Identificamos que enquanto construto sócio-histórico do homem que inverte a relação homem e história pela mediação do ser absoluto, ela pouco serve a transformação radical da sociedade.
Mas, como graças a Deus e aos homens alienados vivemos sob o teto das contradições sociais nada impede que os materialistas também usufruam do elemento histórico da contradição e possa orar ou rezar, principalmente em situações em que o destino histórico parece impedir ou rir dos poderes humanos. Quem nunca apelou a Deus ao encontrar um ente querido doente ou mesmo a uma promessa para alcançar objetivo pouco nobre como a vitória do Sport-Re ( se fosse ao menos do Fortaleza...)
Faço isso cotidianamente (não pelo time do Fortaleza, mas pelos que amo) e confessar isto a companheiros de luta (e de fé) é só pra lembrar que em nossos processos de individuação reproduzimos o processo de alienação por conta dos mesmos limites históricos que eliminam a possibilidade de encontrarmos a nossa identidade humano-genérica e nos reconhecermos nela. Se nas nossas relações homem x homem não encontramos a possibilidade de realização só nos resta recorrer ao ser absoluto, que este ao menos não tem contradições.
Professor Adalberto (ufc) sempre nos lembrava que é exatamente a ausência do Estado e políticas sociais que torna a igreja universal o PRONTO SOCORRO DO REINO DE DEUS. Afinal a quem apelar quando nem seus vizinhos (empobrecidos como você) podem lhe ajudar? E aí a boa fé das pessoas vai ser mediada pelo velho determinante da mercantilização e dependendo do seu dilema. ela terá um preço, desde um vale transporte ao cheque gordo do empresário que irá participar do dia do empresário.E até o amor (outro velho construto sócio-histórico) tem sua solução no dia da paquera na igreja universal.Enfim tudo se resolve no centro comercial do reino de deus,afinal pequenas igrejas,grandes negócios...
Meus questionamentos sobre as instituições religiosas não vem da família. Tenho um irmão que é protestante fervoroso, admiro e invejo sua fé. Há tempos de passar o dia louvando...um dia desses de tanto ouvir a mesma canção sobre um pastor que com suas 99 ovelhas não cansava de procurar a centésima, observou seu vizinho profano reclamando ao síndico: “não agüento mais aquele cara....é uma putaria de umas 49 ovelhas o dia inteiro..”
Há quem agradeça a e tenha certeza que é privilegiado por Deus por não ter ido naquele avião que caiu e matou dezenas de pessoas... foi Deus. Tudo bem, os outros provavelmente não eram filhos de Deus ou já tinham alcançado a salvação e portanto, poderiam ir direto ao céu e com certeza não encontrariam transporte melhor...
Como no nosso sistema nada é mais legitimo que a salvação individual, é de direito rezar pra passar em um concurso e derrubar (com todo o apoio divino) os seus concorrentes. Ninguém precisa e merece mais aquela vaga que você.
Se você já alcançou o espírito da pós-modernidade e acha Deus um ser muito medieval, autoritário e totalitário que a modernidade não conseguiu eliminar, não esqueça que tudo se resume a uma questão de representação e que, portanto cada um pode ter seu próprio Deus. Se ele não serve, tem os duendes, as fadas,os signos(eu adoro) e toda sorte de mistificações que pode tornar a mediocridade da vida burguesa mais feliz. Ah!Tem também O SEGREDO, depois eu conto!

quarta-feira, 17 de março de 2010

O gordo em pauta.

Erlenia Sobral

Recentemente na cantina do ccsa, presenciei uma cena que me fez refletir, aliás, como tudo que acontece naquele prosaico café. As meninas da lanchonete questionando quase silenciosa e maldosamente as preferências de uma senhora gorda que como cidadã consumidora pagava sua torta de chocolate. Enquanto pessoa fora de forma e também fã da deliciosa guloseima, me incomodei e fiquei a pensar porque a obesidade dos outros preocupa tanto.
Não que eu não saiba que esta se configura como uma doença a ser superada. Pelo contrario, acho que necessariamente precisa ser tratada como tal. Não só pelo obeso e os médicos, mas também pelos magros que a percebem com um certo desconforto. Assim poupariam o gordo de duas coisas:1) do velho sentimento de culpa,tão próprio da sociedade ocidental e 2) de mais uma desculpa deste se refugiar em uma das poucas maravilhas desta vida que é comer.
Todo gordo já tentou superar sua condição, embora nem sempre admita que ela seja determinada pelo pãozinho a mais, seu corpo sempre sofre para uma tendência, sabe aquela velha frase: eu nem como tanto assim.... Não faltam revistas especializadas e já que perceberam que gordo gosta de consumir muito, tanto exploram sua doença como estimulam a superação da mesma.
Nas ditas revistas especializadas, o gordo é necessariamente alguém que tem alguma frustração e inveja do magro. Mas,segundo Luis Fernando Veríssimo( diga-se de passagem,um simpático gordo) o sentimento não se direciona a qualquer magro,mas ao come e não engorda.Pra ele,quem não gosta de comer nem é gente; o que desperta a inveja é aquele de metabolismo espetacular,aquele que come tudo e não engorda de ruim que é. Mas, gordo não pode ser ruim, portanto fica difícil emagrecer. Gordo tem que ser no mínimo simpático ou engraçadinho pra compensar o tanto de espaço que ocupa nas cadeiras de ônibus e no elevador.
Algumas pesquisas já mostram determinações genéticas e sociais desta doença. E é com certeza uma característica do nosso tempo de abundancia e muito controle remoto. Tempos em que caminhar não é mais uma condição natural e básica do ser humano. Mas, um privilegio da coragem de quem não se rendeu ou não tem acesso aos confortos, determinados pelas conquistas do desenvolvimento das forcas produtivas e suas contradições.
Vejam então que o gordo pode também ser contextualizado como uma vitima, tudo bem que não de todo passiva,haja vista sua boca nervosa.Mas,também não deveria incomodar tanto.Nem os regimes e as milhares de dietas deveriam ser os únicos ponto de pauta das conversas de todo mundo,inclusive de intelectuais; cadê o famoso hoje tá fazendo um calor não é?Observem que eu nem mencionei as exigências dos padrões de beleza anoréxica. Também dá pra substituir a pauta por assuntos mais lights como os espirituais. Só pra lembrar que gordos e magros tem outros atributos humanos para além de sua silhueta.
Mas, já que estamos numa sociedade tão atenta aos padrões de beleza, solicito que a indústria cosmética aperfeiçoe o mais urgente possível o botox pq não demora chego aos 40 e espero poder usá-lo, sem prejuízos da minha eterna vontade de rir da vida e de nós mesmos.
Uma cantada sincera?



Apesar dos tempos ultramodernos, da liberação sexual e do doloroso processo de emancipação das mulheres, uma boa parte dos homens ainda se utiliza de palavras que tentam de alguma maneira iludir as mulheres, ainda que a teleologia seja apenas uma noite ou um antes a tarde do que nunca.
Por isso a particularidade no caso de minha amiga. O príncipe encantado desceu do cavalo branco e numa atitude inusitada enviou um depoimento via Orkut pra nossa colega onde revelava sua atração pela mesma. Mas, foi muito claro e sincero: não é sentimental,é físico.. Afinal seus nobres sentimentos estão canalizados para o seu mais novo endereço, onde agora divide as escovas de dentes com seu “único e verdadeiro” amor. Ele guarda ansioso a resposta ao convite pra sair e solicita que ela não o encare como um cafajeste, ainda que tenha enviado o depoimento como secreto, já que sua verdadeira mui amada (que tem o privilégio de seus nobres sentimentos) não pode saber.
Nossa colega que tem como livro de cabeceira o famoso livro As 35 regras para conquistar um homem ficou estarrecida com a descarada proposta. Não pq não possa viver uma aventura, mas o nobre cavalheiro precisa saber que até para o efêmero é preciso o mínimo de elegância e talvez uma certa dose de romance, ainda que o cinismo seja sua base. A cara dura da sinceridade fica pra um outro momento dos relacionamentos, quando a famosa DR já ocupou o lugar do jogo de sedução.
Talvez futuramente o comportamento do rapaz possa ser usado com mais freqüência sem causar choques, perdas ou danos, principalmente se for compartilhado pelas três partes interessadas ou desinteressadas na sinceridade como recurso de convivência e de expressão do sentimental ou físico. Por enquanto, vamos fazendo as leituras das forças em presença e vivendo uma hipocrisia suportável, que ninguém é de ferro.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Uma forte ausência!


Tão estranha sua morte

Simplesmente você não existe mais

Não faz mais compras

Não deve mais a ninguém

Não sofre mais por amor.


Não beija mais seu filho

Não conta suas piadas

Não foge para seus amores

Não escreve nem recita suas poesias.


Não planeja novos livros

Não pode mais defender lula

Não entra mais de repente na sala

Não mais nos surpreende com suas estórias

Não nos alegra com sua doce e inquieta presença

Não nos mira com seus olhos belos e claros.


Assusta saber que você vai se apagando em nós

pela urgência do cotidiano

pela ausência na sala

pela falta de nova poesia

pela importante correria pela cédula.


Achamos que foi só com você

a morte não está no nosso horizonte

por isso corremos,

por isso precisamos esquecer de você.




No mês de agosto de 2007 meu irmão faleceu aos 51 anos de idade.
Roberto Sobral,o marinheiro poeta.
Compartilho com vcs uma de suas poesias.
Sempre lembro dele e da alegria que emanava mesmo com o câncer.
A morte é algo absolutamente estranho.

METAFÍSICA (Roberto Sobral)
Ontem retornei à praia. Ao entardecer silenciosamente a buscá-la na preamar Inutilmente sem respostas vaguei...Quanta metafísica nos meus passos, sonhos, Filosofia na areia...
Eu pensei em recitar Camões. Mas apenas fragmentos de alguns versos seus me acudiram Também... recitar pra quem?
Para quem eu diria Camões, Rilke ou Verlaine? Você não estava e ainda que transcendente seja a poesia Você não estava
Ainda que hipotético eu fosse.
Respirei fundo a angústia daquela tarde e toda a realidade do mundo desabou sobre a minha cabeça. Há algo demais profundo na minha caminhada Tenho a sensação de que é pela sua ausência que me descubro. Você não vem e um vazio enorme fica dentro de mim.
No meu regresso pensamentos aflitos, subjetivos me ocorrem... Será que amor é isso?

domingo, 7 de março de 2010

DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Um abraço em minhas queridas amigas pelo dia internacional da Mulher. Tenho o privilégio de conviver com tantas guerreiras na família, nas esquinas, nos caminhos da amizade. Carregamos parte do fardo do mundo, do pecado original, a maldição do Gênesis. Abraço fraterno em nossas reações, nossas lutas, nossas diversidades de amar, nossas formas de dizer não à opressão de gênero, de classe, etnia, sexualidade.
Eternas bruxas, fervilhamos em nossos caldeirões o mix da polivalência, das infinitas formas de amar, da intensidade, das compaixões. Quiçá nosso potencial de amar seja um ingrediente a transbordar e a desarmar o mundo e a nós mesmas, fortalecendo a beleza de nossa feminilidade para além dos lucros das indústrias cosméticas e dos eternos complexos de cinderela.
Parabéns a todas nós, pelas lutas individuais de todo dia, em particular àquelas que estão na luta coletiva. Que nossa coragem nas batalhas deste mundo seja também uma arma pra construção de um mundo radicalmente diferente.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sobre a loucura

Erlenia Sobral

Na minha turma de pós brincamos constantemente com a categoria da loucura, dizendo que esta certamente foi, sem duvida, critério de seleção da nossa turma. Ou será mesmo coincidência a reunião de 11 seres mui loucos numa mesma leva de seleção? Fica a duvida.Mas, neste texto gostaria de comentar um pouco sobre a loucura. Claro sem nenhuma pretensão de lucidez acadêmica,ate porque não tenho propriedade para tal.Mas calma, não deixem de ler, pois também não tenho ainda atestado de doido.Sou alguém quase normal, pensando e temendo um pouco a temática.

Claro que temo. Quem ai não tem aquele medinho de enlouquecer de vez? Se nunca passou isso pela sua cabeça, cuidado,... das duas uma:ou vc já enlouqueceu totalmente e portanto a temática pouco o preocupa ou ninguém lhe avisou,mas sua normalidade ta passando dos limites.

Aquela velha frase de Caetano de perto ninguém é normal todo mundo já usou um dia, principalmente em ocasiões em que vc se surpreende com uma atitude de um velho amigo que era pra vc símbolo de lucidez, até presenciar um ataque histérico dele no transito. Ou ele vai dormir na sua casa e confessa ter medo de espíritos, pedindo pra que vc deixe a luz acesa(ele conhece tanto os espíritos que sabe das loucuras dos mesmos).Ou vai tomar café com vc, lava as mãos umas quatro vezes e em seguida tira todo o miolo do pão pra não engordar.Não sem antes tomar 2 copos de suco de laranja e 2 fatias de bolo.

São nestas pequenas loucuras que revelamos nosso ser. Talvez por isso, companheiros (as) de longas datas se tornem cúmplices e por vezes tem dificuldades de se separar, mesmo quando o amor já foi. E se ele revelar minhas manias? E depois dá uma preguiça de conhecer outro maluco ou maluco e passar pelos velhos processos e só revelar suas loucuras aos poucos pra não assustar o futuro cuidador ou cuidadora. E se as loucuras de um outro louco emergente forem piores que as do anterior?Afinal, vc tem que saber qual loucura combina mais com a sua.

Conheço gente que, coitado, tem certeza absoluta que é normal. Mas,também é só a certeza,porque os olhos,os risos nervosos e os tiques o desmentem o tempo todo.Conheço um que a psicóloga deu alta em poucas sessões e teve pena de encaminha-la ao psiquiatra.Pena do psiquiatra,não dele.Afinal o pior doido é o sabido e aquele que filosofa sobre sua própria loucura e ainda consegue seguidores.

Às vezes é genético. Conheço uma família inteira.Meu pai dizia que na dita família, o mais normal era sua afilhada e mesmo assim pedia a bênção a ele as 20 vezes que o encontrasse.Pior era meu primo,que ao chegar na casa da vó, não tinha paciência de esperar todo aquele ritual que a velhinha fazia e antes que ela começasse,ele já a tinha abençoado e corrido pro quintal brincar.

Tem também a lenda que estudar deixa a gente doido. Não duvido,embora me arrisque.Encontro muitos loucos na universidade.Por isso é bom continuar marxista,pois esta perspectiva ao menos não viaja muito na maionese,mantém seu pé firme no chão e pode ser um antídoto contra crenças,boatos e loucuras.Se bem,que as vezes não funciona muito com certos companheiros.

Afinal, os marxistas também tem uma certa dose de loucura, ao quebrarem as regras da normalidade dos padrões e fetiches burgueses. Mas,neste caso a loucura sim é a maior prova que em certas ocasiões a normalidade e a loucura tem muito mais identidades do que imaginamos.

Sobrevivemos numa sociedade que enlouquece a todos nos, com consumo desesperado de coisas e coisas e coisas. Você pega alguma coisa na prateleira,enfrenta uma fila,xinga a lentidão e resistência do caixa explorado,trabalha de graça como empacotador de mercadoria para o dono da loja economizar mais alguns milhões de reais,leva pra casa,olha mal pro seu vizinho no elevador,se tranca e vai curtir sua nova aquisição.

Ao menos ate o momento que vc descobre que não era bem aquilo que queria... talvez tem um lançamento novo.O que vc não consegue enxergar nem descobrir e a identidade que se construiu entre seus desejos e os do capital.E mais, que o que nos enlouquece é não sabermos mais quem somos,pois ele já se apoderou de nossa alma.

terça-feira, 2 de março de 2010

Não é uma Brastemp,mas...

Não é uma Brastemp, mas....
Erlenia Sobral
Luciana é uma brava lutadora que sobreviveu aos processos violentos de ocupação e resistência da Rosalina, mãe de seis filhos, e que hoje eu tenho o privilégio de conviver, usufruir de seus serviços aqui em casa; ainda de sua alegria constante, inexplicável, invejável e sem preocupações com as falhas no sorriso. Ainda que uma jovem senhora, ela tem muitas estórias pra contar. Compartilho com vcs sua saga na compra de uma geladeira. Não era uma Brastemp, mas...
A geladeira é hoje talvez um dos produtos que mais cumpre o tempo curto e necessário pra garantia do tempo de giro das mercadorias e garantia de consumo e lucro. Mas, não bastasse a má qualidade da mercadoria, ainda temos os processos de financiamentos de compra. Luciana não possui cartão de crédito, pois o SPC (sistema de proteção ao capital) não permite. Assim, apelou ao outro SPC (solidariedade e proteção ao carente, uma destas coisas que às vezes só encontramos nas classes subalternizadas). No caso, um amigo da comunidade cedeu seu crédito, através de uma financeira.. O produto foi então adquirido em 12 parcelas de 120,00... era o planejamento inicial.
Todos ficaram eufóricos com o bem adquirido e livres da antipatia da vizinha que já não agüentava mais ocupar sua já gasta geladeira. Passado o primeiro pagamento com tranqüilidade, nossa amiga sofreu um baque muito comum na sua profissão imersa na informalidade, no oportunismo da classe média e na “ausência” de direitos... ficou desempregada doméstica.
Mas, sem querer prejudicar o amigo solidário que lhe acudira, Luciana resolveu então fazer um empréstimo de 450,00 com um agiota pra atualizar as 3 parcelas atrasadas, penhorando o benefício que recebe por 8 meses (adicione-se 8x134, 00 ao valor total da geladeira). Mas,no processo de negociação com a financeira a agiotagem foi maior: na análise do débito em questão , a negociação possível foi 250 de entrada mais 10 parcelas de 100,00.
Contando que nem sempre o orçamento permite o pagamento em dia, Luciana já pagou muito mais juros ainda. Eu fiquei zonza ao tentar somar, mas por nossas contas o bem já está em torno de 2060,00, ainda faltando cinco parcelas pra fechar o pagamento total.
Ela relata que o afeto pelo produto já se transformou em mágoa. Quiçá, seu ódio pela dita cuja também não auxilie o tempo de giro da sofrida aquisição...