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domingo, 25 de abril de 2010

Sobre o entardecer.

Idalina lava com fervor os pés de seu pai com um sabugo. O velho já cansado, mas ainda reivindicando maiores carinhos com aqueles que garantiram suas tantas andanças pelo mundo, reclama: “Idalina, isso é pé de gente!!!” Sem se fazer de rogada com o aperreio no asseio, Idalina “filosofa” com o vizinho que se aproxima:” é isso mesmo, tanta mãe de família morre... e meu pai nesta idade..."
Esta é uma das muitas estórias que escuto do meu velho pai que em maio completará 80 anos. Gosto de ouvi-lo e acho que ele gosta de ter uma ouvinte. As lembranças são as principais companheiras desta idade. Fico pensando que o dilema central nesta idade é a solidão, principalmente numa sociabilidade onde envelhecer e escutar são coisas absoletas e, portanto, em desuso. Assusta-me a vulnerabilidade da velhice, principalmente quando ser jovem é tudo que importa na síntese da sabedoria ocidental.
Espero ter oportunidade de escutar muito de suas lembranças, saber identificar o que é real ou fruto de sua fértil imaginação e amenizar um pouco de sua solidão,enquanto aprendo com a experiência de suas ricas objetivações e reflexões. A solidão de quem parece não ter nada mais a protagonizar neste emaranhado de vida útil, burocrática e urgente que não atenta para a beleza da experiência alheia.

5 comentários:

  1. Gosto de vir ao seu blog porque sempre me vejo, sou um pouco mais jovem (com todo respeito), porém encontro-me em algumas linhas. Seja no ônibus da postagem anterior, ou sentada em uma cadeira na calçada, ouvindo histórias da juventude dos meus pais. Felizes daqueles que como nós, tem esse privilégio de conhecer o passado de quem nos deu um futuro. Sonho em um dia poder contar aos meus filhos o que hoje vivo e que eles possam sentir a mesma alegria que eu sinto ao ouvir meus pais.

    Que o seu papai complete muitos e muitos anos de vida. Muita sáude e paz!


    AAAh, eu tenho um blog sim,não sei o motivo pelo qual você não está conseguindo ver,mas ele se chama ''Vida rabiscada.''
    Abraço Leni, voltarei sempre por aqui, pra ver se me vejo, pra ler o que eu gostaria de ter escrito,pra simplesmente ler o que merece ser lido.

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  2. Belo texto!
    Apesar de tão nova, as vezes sinto-me uma idosa...
    pobre menina, ainda não sabe nada da vida
    "faço versos como quem morre"

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  3. Ah, como eu odeio os meus comentários apagados.
    Eu falava do meu Avô de 102 anos que sempre conta a história do dia em que ele nasceu. Eu receio se minha terceira geração vai ouvir minhas histórias ou se eu terei que resumir tudo em 144 caracteres e ficar condicionado à virtualidade...

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  4. Car@s,fico contente pela visita.Sempre me realizei também com meu papel de tia..rsrs aprendendo e me atualizando com as novas gerações que também tem muito a dizer.É um privilégio esta convivência, ainda que apenas virtual.
    Deste mundo virtual temos que explorar as coisas boas.

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  5. Eu lembro da Agnes Heller ter virado citação para que minhas palavras pudessem valer um 10 em algum trabalho que me renderia uma carta de alforria da graduação. No entanto, não acredito nessa unidade, ao menos na primeira interpretação que me vem do que você falou. Não consigo conceber a existência de algo que não seja plural, não sei bem. Acho que estou dando um outro sentido que vai caminhando pelas idiossincrasias. Ainda acho obsoleta as palavras que se acompanham do adjetivo "burguesa". Não sei se essa dualidade é deveras tão significativa para a construção do simbólico e da semântica. Se considerarmos as estruturas sociais e ideológicas embasadas na estrutura econômica ainda acho válido passear por aí. No entanto, o simbólico caminha facilmente pelas "linhas de fuga" do sistema, a tal ponto que é capaz de criar suas próprias dualidades e clivagens em si mesmo. Acho que a unidade humana é oriunda de um ideal de acordo coletivo que criaria um modelo ideal e utópico a ser seguido, propagado e ensinado, acho que a unidade e a união são apenas metafísicos. Não sei, só sei que não acho ultrapassado falar disso, acho atemporal.




    Ps- Eu gosto dos nossos diálogos.

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