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segunda-feira, 19 de abril de 2010

“Eu sou o passageiro...”
Passei uma parte significativa da minha vida dentro de ônibus. Entre idas e vindas à longínqua periferia de Fortaleza (sua parte não bela), sempre ficava divagando e imaginado mil coisas, por isso tenho dificuldades até hoje de identificar os caminhos, típica pessoa desorientada geograficamente. Faço sempre a alegria de taxistas e seus taxímetros ou de machistas que criticam minha direção; já me perguntaram se tirei minha carteira em Caucaia. rsrs..sou feminista(e as estatísticas do trânsito estão a meu favor),mas na ocasião juro que só pensei na discriminação da Caucaia e boba, só conseguia rir...
Mas, nos trajetos quilométricos de “enlatados lotados”, minha imaginação era sempre interrompida por aqueles personagens,figuras dormindo com um livro aberto na intenção de ler naquela "carroça"... trabalhadores iniciando a jornada,muitas conversas,piadas machistas e homofóbicas, o corno(o outro, obviamente ) como protagonista fundamental e recorrente...o ônibus faz uma parada e atenção em uma mulher, o material avaliado por diferentes gerações. O mais jovem diz que a figura não é tão bela diante do seu nível de exigência, o mais velho discorda com a sabedoria da idade: “é porque vc não chegou ainda na idade do carcará”. Assim, os pós-modernos estão certos ao menos em alguma ocasião, quando dizem que tudo é uma questão de olhar... rsrs
Os mendicantes sempre foram personagens especiais, principalmente os que jogavam praga aos que não cediam aos apelos; as pragas mais simples sugeriam o ônibus virado. Minha irmã desgraçadamente perdeu um daqueles papéis que os “mirins”(na época,chamávamos assim,pois infelizmente ainda não tinham aparecido os termos politicamente corretos) costumavam entregar aos passageiros. Ele foi ameaçando cortá-la de gillete até o centro da cidade. Por sorte,ao levantar-se, viu o papel e sua vida recuperados.
Tinham os apelos mais humanos e os mais criativos. Aquela mesma senhora com diferentes tragédias a nos comover. aquela que vindo do interior mal conhecia a cidade,mas acabara de se tratar no hospital da Messejana. Aquele com as receitas médicas de alguns anos atrás.... enfim...estratégias de sobrevivência que só quem vive na miséria consegue criar.Recentemente ouvi um menino com um discurso todo bem decorado com um apelo deveras antenado na venda dos bombons: “ acesse o site: WWW. Taque a mão no bolso...”
O desrespeito a estes trajetos e personagens e suas boas estórias no desconforto do GOL (grande ônibus lotado) é diretamente proporcional aos bons e vultosos lucros das empresas de transportes de gente.. A pergunta que não quer calar: Pq seres humanos tem menos importância que as coisas?

3 comentários:

  1. Ao começo do texto me vi passageira, sentada (ou em pé mesmo) no ônibus que pagava para ir à escola. Diferentes histórias, ''a gente ver de tudo'', aos poucos até o motorista já vira rotina...

    Bem legal o seu blog, o seu texto também,um dia eu chego lá, enquanto isso fico com aquela inveja (branca) dos que escrevem tão bem quanto eu gostaria de escrever.


    Ah, e quanto a pergunta ao final do texto, não sei respondê-la...Mas gostaria de saber a resposta.

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  2. Naiana,obrigada pela visita e pelo comentário. vc tem blog? não consigo acessar.

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  3. Eu me vi no coemço do texto.
    Muito bom!

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